
“Quero falar com vocês sobre segurança no trabalho” ele
disse. “Todo ano vários funcionários da Alcoa sofrem ferimentos tão graves que
perdem um dia de trabalho. Nosso histórico de segurança é melhor do que a média
da mão de obra americana, principalmente levando em conta que nossos empregados
trabalham com metais a mais de 1500 graus e máquinas capazes de arrancar o
braço de um homem. Mais ainda não é suficiente. Pretendo fazer da Alcoa a
empresa mais segura dos Estados Unidos. Minha meta é um Ãndice de zero acidentes.”
A plateia ficou confusa. Estas reuniões geralmente seguiam
um roteiro previsÃvel: o novo diretor começava se apresentando, fazia uma falsa
piada autodepreciativa e em seguida crÃticas severas a impostos normas
comerciais e o discurso terminava com uma enxurrada de palavras da moda como “sinergia”
“proativo” e “competição”. O’Neill não dissera nada sobre lucros. Não mencionou
impostos, nem como obter vantagem competitiva no mercado. A julgar por aquele
papo sobre segurança no trabalho ele talvez fosse a favor da
pró-regulamentação. Era uma perspectiva apavorante.
“Agora antes de prosseguir” disse O’Neill “quero apontar as
saÃdas de emergência deste recinto”
Silêncio. O único som era o zumbido do trânsito. Por fim,
alguém levantou a mão e perguntou sobre inventários na divisão aeroespacial.
Outro perguntou sobre os coeficientes de capital da empresa. Ele respondeu “Não
tenho certeza de que vocês me ouviram”. “Se
vocês querem entender a situação da Alcoa, precisam olhar os números da
segurança dos nossos locais de trabalho. Se diminuirmos nossos Ãndices de acidentes,
não será devido a um esforço motivacional ou às baboseiras que vocês ouvem de
outros diretores executivos. Será porque os indivÃduos desta empresa concordam
em se tornar parte de algo importante: dedicarem-se a criar um hábito de
excelência. A segurança será um indicador de que estamos fazendo um avanço em
mudar nossos hábitos em todo o âmbito da instituição. É assim que devemos ser
avaliados.”
Os investidores quase se atropelaram para sair do salão
quando a apresentação terminou. Um deles correu até o saguão, achou um telefone
público e ligou para seus vinte maiores clientes.
“Eu disse: ‘A diretoria pôs um hippie maluco no comando, e
ele vai afundar a empresa’”. “Mandei eles venderem as ações imediatamente,
antes que todos os outros no recinto começassem a fazer o mesmo.” Foi
literalmente o pior conselho que dei em toda a minha vida”
Em menos de um ano após o discurso de O’Neill os lucros da
Alcoa atingiriam uma alta recorde. Quando ele se aposentou em 2000 , o
faturamento lÃquido anual da empresa era cinco vezes maior do que antes de ele
chegar. Além disso todo esse crescimento aconteceu enquanto a Alcoa se tornava uma
das empresas mais seguras do mundo. Antes da chegada de O’Neill quase todas as
usinas da Alcoa tinha no mÃnimo um acidente por semana. Uma vez que o seu plano
de segurança foi implementado, algumas unidades passaram anos sem que um único
empregado perdesse um dia de trabalho devido a um acidente.
“Eu sabia que precisa transformar a Alcoa” disse O’Neill “Mas
você não pode mandar as pessoas mudarem. Não é assim que o cérebro funciona.
Por isso decide que era melhor começar enfocando uma única coisa. Se eu pudesse
começar desmanchando os hábitos relacionados a uma única coisa, isso se
alastraria pela empresa toda.”
Ele acreditava que alguns hábitos têm o poder de iniciar uma
reação em cadeia, mudando outros hábitos conforme eles avançam através de uma
organização. Ou seja, alguns hábitos são mais importantes que outros na
reformulação de empresas e vidas. Estes são os hábitos angulares e eles podem
influenciar o modo como as pessoas trabalham, comem, se divertem, vivem, gastam
e se comunicam. Os hábitos angulares explicam como a Alcoa tornou-se uma das
ações de melhor desempenho no Ãndice Dow Jones, enquanto se tornava um dos
lugares mais seguros da terra.
Fonte: O poder do hábito de Charles Duhhig
Fonte: O poder do hábito de Charles Duhhig
Nenhum comentário:
Postar um comentário